sábado, 11 de outubro de 2008

Passe adiante.

Por Eder Fischer


Na última quinta-feira, tirei folga. Já tinha planejado tudo desde segunda-feira, pensei: tenho algumas horas para tirar, vou ao jogo quarta-feira, saio 5 minutos antes, pois aos quarenta do 2º tempo já vai estar no mínimo uns 2x0 pro Tricolor, assim chego na parada uns 15 minutos antes de passar meu ônibus - havia ligado antes para o 0800 da empresa para certificar-me do horário da última viagem sentido centro-bairro -, no outro dia, levo minha filha na creche, volto pra casa, recupero o sono perdido, acordo umas 11 horas (eu estou com uns quatro dias de sono atrasado), almoço qualquer coisa, levo a Suzi, como chamo a minha moto, Suzuki intruder, no mecânico, volto pra casa, pego minha filha mais cedo na creche, curto o resto do dia com ela e, à tardinha, quando ela dormir, escrevo o meu texto para a coluna de sábado, provavelmente sobre a vitória do Palmeiras com a ajuda da arbitragem e nosso retorno à liderança na próxima rodada. Tudo programado. Na segunda-feira, quando planejei tudo, já pude experimentar a sensação de estar tudo feito, como quem põe uma moeda na máquina e só espera a Coca sair lá embaixo, geladinha. Porém, como estava escrito em uma mensagem de MSN de uma adolescente: vida é o que acontece enquanto planejamos o que fazer com ela. Como Gremista, deveria saber disso, mais do que ninguém.


Quarta-feira, 8 de outubro
17 horas: Entrei no site do Grêmio para comprar meu ingresso como sempre faço. Fiz todos os passos, tela de usuário e senha, depois escolhi o setor, arquibancada é lógico, forma de pagamento, senha do cartão, confirma, aguarda, aguarda, ampulheta girando na tela e... escuro? Putz! É interessante como sempre alguém anuncia o óbvio, e naquele dia não foi diferente. Meu colega gritou: "Faltou luz!" Pensei: E agora? Será que eu consegui comprar? Muita gente desesperada, entre um “puta merda! acho que eu não salvei” e outros “liga e diz que vai atrasar”, lá estava eu com uma preocupação totalmente alheia. Respirei fundo e retomei uma serenidade zen em meio aquele caos. Contei meu dinheiro, R$ 17,50 e um ticket alimentação no valor de R$ 9,00. 17,50 menos 4,20 (valor da passagem de ida e volta) 13,30. Chegando lá, tento entrar, e se não der, peço pro meu amigo emprestado R$1,70 e compro meu ingresso. Volto ao mundo externo quando o Hino do Grêmio toca em meu celular, era o meu amigo. Deixo tocar alguns segundos antes de atender porque, sempre ao ouvirem o hino no meu telefone, meus colegas gremistas param o que estão fazendo e levantam a mão direta, e os colorados ficam P... mas não deixei tocar muito aquele dia.


-Eaeeeeee Rafa!? Fala, irmão! Vamô ganha hoje?
O tom de sua voz dispensava a resposta:
- eaê...
tentando impedi-lo de dar a noticia inevitável falei em tom quase ameaçador:
- Iiiii.... não vai dize que vai amarelar.
Mas, como sempre, foi em vão
- Ba, nem me fala véio. Fiquei engatado aqui no trampo, não vai rola hoje.
Agora, em tom de consolo respondi.
- Poow... bah, que pena cara, mas não esquenta, fica pra próxima então.
Tava decidido. Não ia ser um e setenta que estragaria todo o meu planejamento.
19 horas: Estava me dirigindo à parada quando um ex-colega me ligou.
-Fala, meu bruxo
Disse ele, com um som ao fundo que eu conhecia bem.
- Eaê, Alessandro! Tá no Olímpico, meu?
Perguntei, já com o animo recobrado.
-O que tu achas?
- Mazaaaa, to indo pra i. Me espera ali no 10.


De longe, avistei o cara e seu filho, o Wellington, de 9 anos. Isto significava uma coisa. Ele não vai na Geral. Mas tudo bem, o guri é gente fina pra caramba, mais torcedor do que muitos que estavam na nossa volta. Além do mais, o piá era pé quente. Cheguei nas catracas, passei o cartão, e nada, o cara olhou pra mim e disse: "Vira ele". Então apareceu no visor de LCD das catracas aquela frasesinha mágica: “Bom jogo, Eder”.


Ficamos na arquibancada, escorados na grade acima do portão central, bem no meio do campo, a melhor visão do jogo das arquibancadas.


Dali onde estávamos, dava pra ver a festa da Geral, deu pra ver também que ela está aumentando. Há alguns anos, ela ocupava todo o fundo do campo. Hoje, já fez a curva e dirige-se para o centro. Confesso que, ali onde eu estava, a torcida não é tão participativa, mas quando eu notava que dava uma “caída”, cantava mais alto, e quando percebia que a empolgação ia caindo, gritava: VAMO CANTA, CA**LHO!. O Wellinton me acompanhava, aos poucos fomos conquistando uns simpatizantes.


Bem, não precisa dizer que o jogo não foi barbada e não saí antes, pelo contrário, ainda fiquei alguns minutos cantando: ô tricolor, amo você...


Me despedi e fui correndo para a parada. Atravessando a rua, pude ver o meu ônibus (O ÚLTIMO) saindo. Peguei o “pinheiro” que passou uns 15 minutos depois, desci perto da Antônio de Carvalho e peguei um táxi. No caminho fui pensando que as coisas não haviam saído como planejado, mas saíram.


Quinta-feira, 9 de outubro
8 horas: Deixei a Victória na creche e voltei pra casa, dei uma olhada na Internet e, quando percebi, já se passava das dez horas, lá se foi meu sono da manha.
12 Horas: Descubro que não há nada para comer. Tudo bem, no caminho para a mecânica, páro em algum lugar e faço um lanche.


14 horas: Estou empurrando minha moto na Bento Gonçalves, pois ela apagou e não pegou mais. Só mais uns 4 ou 5 km e eu chego na mecânica. PQP!


14:10: Um motoqueiro para e pergunta se to precisando de gasolina. Eu digo que o problema deve ser o carburador e que estava justamente levando a moto para consertar. O cara, sem pensar, disse: "sobe ai que te empurro". Então, ele botou o pé direito no estribo do carona e me empurrou uns 4 quilômetros. Quando chegamos, quis pagá-lo. E ele me disse: "Guarda o teu dinheiro. Quando tu ver outro motoqueiro precisando, tu ajuda também."

Esta frase me fez pensar enquanto empurrava a moto nos 200 metros restantes.
Se todo mundo passasse adiante algo bom que nos foi feito, moraríamos num mundo bem melhor. Linkei este fato com a Geral do Grêmio, que vem conquistando novos adeptos, aumentando de tamanho a cada jogo. Se você, que adora ver e falar da nossa torcida para os outros, além de cantar junto, tentar motivar alguém do seu lado a cantar também e esse alguém incentivar outra pessoa, até o final do ano, quem sabe, teremos uma torcida única nas arquibancadas, uma Geral que vai de goleira a goleira no Olímpico. E isto não é utopia, é bem possível. Só que para acontecer, é necessário que você passe adiante.


Desculpem mas o texto também saiu muito maior que eu imaginava.

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