sábado, 13 de dezembro de 2008

Por que eles estão aplaudindo?

Por Eder Fischer

Estávamos perdendo o título, ou deixando de ganhar, como alguns preferem. A vitória contra um adversário teoricamente mais fraco estava sendo complicada. A partida havia sofrido sérios riscos de ter um desfecho diferente. No banco, tínhamos um técnico rejeitado desde o momento em que pisou no Olímpico. No ataque, Marcel e Perea. Era um domingo perfeito para qualquer pessoa comum ir à praia, tomar uma ceva, dar uma volta no gasômetro ou qualquer outra coisa diferente de ficar torrando sob um sol escaldante durante três ou quatro horas e tomando uma cerveja quente sem álcool. Enquanto (ou)víamos um adversário que estava anos luz atrás, prestes a conquistar um titulo que fora nosso durante 17 rodadas com um gol ilegítimo, e direcionávamos nossos olhares aos céus, implorando por mais uma façanha, víamos um avião passar – covardemente inalcançável aos nossos punhos – com uma provocação digna do que se diz nosso rival. Poucos minutos depois, o rádio anuncia o final da partida do time que estava se tornando campeão, roubando (talvez literalmente) o que fora, em grande parte do campeonato, nosso.Fico imaginando se esta cena acontecesse com o Flamengo no Maracanã, São Paulo no Morumbi ou aqui do lado no Beira Rio. Imagens de invasão de campo, protestos, torcedores queimando a camisa e carteiras de sócios seriam manchetes nos jornais. Talvez, o avião fora contratado com esta bizarra intenção, ele seria apenas uma fagulha numa caixa de explosivos, afinal, nós somos conhecido como a torcida mais violenta do mundo. O objetivo? Manchar uma campanha inteira de uma equipe vencedora apesar da 2ª colocação. Algo para a imprensa vermelha vender jornais e desvirtuar a atenção ao fato de o time de operários terminar o campeonato 18 pontos à frente do time das estrelas milionárias dos vizinhos.Mas, algumas coisas nunca serão compreendidas por simples mortais. No momento em que anunciou-se o término do jogo entre São Paulo x Goiás, aquela multidão azul que havia sofrido não somente naquela tarde, mas quase o ano inteiro, com desclassificações e projeções de um time que lutaria por uma vaga na 2ª divisão da América, aqueles quase 40 mil marginais nazistas armados, onde me incluo (não descartem ninguém! Nem os negros, nem as belas e delicadas geraldinas, nem os senhores e senhoras ou crianças), todos sedentos por sangue, naquele momento em que o locutor soltou a frase: São Paulo campeão. Um breve silêncio foi quebrado, não por um inicio de uma 3ª guerra mundial, e sim, surpreendentemente!, por palmas dispersas que em poucos segundos tomavam conta de um estádio inteiro.Ao meu lado, uma menininha, também nazista, não se iludam com aquele olhar meigo, aquela pequena bolsa da hello kitty provavelmete estava recheada de C4, perguntou ao seu pai:- Pai, nós fomos campeões? Ele responde balançando a cabeça negativamente. Ela pensa alguns instantes e pergunta novamente:- Então por que estamos aplaudindo?Esta resposta, apesar de saber, é difícil expressar por palavras. Alguns dizem que foi o reconhecimento pela campanha, outros dizem que foi pela vaga na Libertadores, mas todos os gremistas que lá estavam ou os que acompanharam o jogo de alguma maneira sabem que são respostas de pessoas que não são gremistas. Porque, aquele que conseguir responder a pergunta desta pequena tricolor, estará respondendo também o que é ser Grêmio.Com dinheiro, eles podem:

- comprar jogadores, mas não um time;
- comprar craques, mas não ídolos;
- comprar títulos, mas não façanhas;
- comprar juizes, mas não justiça;
- comprar a mídia, mas não o reconhecimento;
- comprar um avião, mas ele será insignificante entre um planeta e um céu sempre azul.

Nenhum comentário: