sábado, 16 de agosto de 2008

Nascemos da bola.

Por Eder Fischer

Cândido Dias da Silva, quando veio a Porto Alegre, tinha a bola. Nada mais. E a partir desta bola, foi fundado no dia 15 de Setembro de 1903 o Grêmio Foot Ball Proto Alegrense. Depois desta data, todos conhecem a história. Mas o que poucos sabem é o que aconteceu antes disso.

Mas aqui vai uma história contada por um amigo de um amigo meu, que, segundo ele, a ouviu entre um gole e outro de cerveja em um desses bares pouco freqüentados de Porto Alegre.

A bola trazida para Porto Alegre por Cândido Dias da Silva veio de São Paulo, mas ela não era paulista. Dizem que Cândido da Silva a "ganhou" de um viajante que acolheu em uma certa noite de tempestade. A chuva caia torrencialmente, era daquelas que não precisam mais de 5 segundos para encharcar-lhe até a alma. O "Homem" estava molhado e com frio, a escuridão, o chapéu e o capote impediam Cândido de ver seu rosto. Quando voltava com vestes secas para oferecer ao estranho, a porta que antes estava fechada, agora abria e fechava com violência a chuva que entrava adentro, trazida pelo forte vento que assobiava, impediu que Cândido chegasse mais rapidamente até a porta. A visibilidade naquela noite não passava de 5 metros, mesmo assim, Cândido conseguiu ver o vulto do estranho saindo pelo portão. Desesperado ele grita: "quem é você?"

O homem pára e gira seu tronco. Mas o breu daquela noite impedia que ele enxergasse mais do que sua silhueta. Hesitou um instante, pois o homem continuava na mesma posição, inerte como pedra. Então encheu o peito de coragem e gritou em um tom desafiador novamente: "quem é você?"

Mal acabara a pergunta e um raio rasga o céu iluminando o até então estranho "sem rosto". Cândido recua dois passos. O Homem some na tempestade junto com a luz do raio. Quando abre os olhos, Cândido vê sua esposa e pergunta o que houve. Ela diz que o encontrou desacordado em frente à porta, molhado pela chuva que caía. Ele então conta a história para sua esposa, e os dois chegam à conclusão que nada ocorrera, que aquilo tudo não passara de um sonho. Até que sua esposa pergunta: "o que é aquilo que está sobre a mesa de jantar?" Cândido se levanta e, para sua surpresa, se depara com um objeto esférico revestido em couro. Era a Bola.

Não acredito nessa história como também não acredito que 7 homens podem ganhar de 11 com 2 pênaltis contra, como não acredito que um time vindo do inferno da série B pode ser um dos melhores do Brasil no ano seguinte, e tão pouco acredito que um time que há três meses era desacreditado por todos, inclusive sendo candidato ao rebaixamento, seja o líder incontestável e possa empatar com o time que era favorito, o maior rival, jogando com reservas e em território inimigo. Este é o Grêmio. O inacreditável Grêmio. A reencarnação do exército espartano. Nascido da Mãe do futebol, a bola. O time que veio a esta terra para mostrar que sempre pode ser possível. Que grandes conquistas são maiores que grandes títulos. O time que mostrou como é salgado o preço cobrado pelos que ainda ousam duvidar.

A lógica não me permite acreditar que este é um time comum, prefiro acreditar no sobrenatural, é mais fácil conformar minha mente assim. Preparem-se todos, pois a cada jogo estamos retomando um pouco mais a mística das três cores, talvez alguns ainda não se dêem conta do que está ocorrendo, e se arrependam no futuro por não estarem presente nesse novo ciclo vitorioso que se inicia. Por isso, meus amigos, domingo com chuva ou com tempestade, estarei lá, na quina do estádio junto à melhor torcida do Brasil e do mundo, pois se tratando de Grêmio, o inacreditável pode acontecer a qualquer momento diante dos poucos privilegiados 45 mil que lotarão o Olímpico.

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