quinta-feira, 26 de junho de 2008

Domingo

Por Silvio Pilau


Domingo, sei exatamente como vai acontecer.


Acordarei de madrugada, perto do meio-dia, ainda com uma leve ressaca da noite anterior. Tentarei lembrar do que aconteceu, mas somente passarão flashes pela minha mente. Esta ressaca, porém, não prejudicará em nada o dia que me aguarda.


Irei até a sala de casa, onde estará toda a minha família. O clima não será o mesmo de outros dias. Algo diferente estará no ar, uma expectativa por aquilo que virá. Desejos de um bom dia, que espero tornarem-se realidade.


Almoçaremos. As provocações começarão. Já tarde. Pai de um lado, filho do outro. Inevitável. O sentimento começa a crescer, a sensação de que o momento tão esperado está próximo. A ansiedade vai começar a assumir o controle.


Vou sair para a rua. O ar não será o mesmo que respiro todos os dias. O sol brilhará de outra forma. As expressões nas faces das pessoas não passarão de máscaras tentando esconder de alguma forma o nervosismo pelo que se aproxima. A cidade, paciente, aguardará. O indefinível que se sabe o que é.


Não falarei com ninguém. Não será preciso. Uma camiseta de três cores será a minha voz neste momento. Todos compreenderão. Todos saberão o que tenho para dizer. E, também silentes, responderão.


Logo depois, vou me encontrar com meus irmãos. Pouco diremos, uma troca de olhares será suficiente. Sabemos o que vamos enfrentar. Temos consciência de que o dia não será como qualquer outro. Que estamos indo para um lugar onde tudo pode acontecer.


Não há certeza, não existe tranqüilidade. Entre um gole e outro de cerveja nem tão gelada, entre um e outro comentário sobre o que se passará nas próximas horas, o coração estará apertado. Confiante, no entanto. Angústia.


A paixão e a vontade de trazer o dia para o nosso lado continuam, mas a ansiedade é inevitável. A certeza da incerteza dói. Vou me preparar para o apoio constante, para os cantos irrefreáveis, para os braços que não param. Eu e um todo.


Chegarei ao destino. Neste momento, já louco pelo início. Com todo o nervosismo, ansiedade, desespero e dúvida transformados em pura paixão. Paixão que já fez milagres e que superará o grande desafio por vir.


Por breves instantes, o silêncio dominará. Então, um apito. Ao meu lado, pessoas farão o sinal da cruz. Outras apertarão mais forte a mão de quem amam. Eu, olhos arregalados. Novamente sons à minha volta: “Vamos, Grêmio, vamos.”


O Gre-Nal terá começado.

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