quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Copa do Brasil 1989

Tão logo o juiz José de Assis Aragão apitou o encerramento da primeira Copa do Brasil, sábado à tarde, no Estádio Olímpico, o mais jovem jogador do Grêmio - Assis, de apenas 18 anos - tomou uma atitude típica de sua idade. Recusou abraços, dispensou entrevistas e saiu correndo como um louquinho, a gritar "Sou campeão! Sou campeão! Sou campeão!

"Dezesseis anos mais velho, o capitão Edinho também se comportou de forma esperada. Ao receber o troféu dourado das mãos do vice-presidente da CBF, Eurico Miranda, limitou-se a sorrir e mostrá-lo aos quase 70 mil ensandecidos torcedores. Depois, comentou:


"Eu já havia decidido abandonar a bola quando recebi o convite do Grêmio, em abril. Como eu estava certo ao aceitá-lo!"Assis e Edinho já tinham agido de forma semelhante na conquista do pentacampeonato gaúcho.


Nos 2x1 sobre o Sport - que deram o título ao Grêmio e o colocaram na Taça Libertadores de 1990 -, confirmava-se: era essa fórmula tão antiga quanto o futebol, de juntar caudilhos calejados e jovens talentosos e entusiasmados, que havia produzido o segundo título gremista em pouco mais de dois meses. Mas foi não apenas isso.


"A festa é dos jogadores", declarou, pouco antes de se evaporar, o modesto feiticeiro às avessas que bolou essa fórmula nada mágica - o técnico Cláudio Duarte. E eles não se fizeram de rogados. Muitos esguicharam champanhe nacional sobre os torcedores que os cercavam.


Outros beberam. O campeão da primeira Copa do Brasil venceu sete partidas e empatou duas, exibiu o ataque mais eficiente (25 gois) e a defesa menos vazada (apenas quatro).Ao longo dessa irretocável campanha, o Grêmio só tomou dois sustos.


Um aconteceu no primeiro jogo das semifinais, no Maracanã: chegou a estar perdendo por 2x0 (e Zico desperdiçou o terceiro ao chutar na trave), mas reagiu e chegou ao empate, enfiando históricos 6x1 no jogo de volta. O outro susto ocorreu justamente na final contra o Sport. O time gaúcho vencia por 1x0, gol do excelente Assis. Aos 31 minutos do primeiro tempo, porém, o goleiro Mazarópi falhou incrivelmente e socou a bola para dentro do próprio gol. Nesse momento a multidão de 62807 pagantes silenciou e sentiu medo do pior.


O empate em um gol dava o título aos pernambucanos. Mesmo Edinho e os outros veteranos acusaram o golpe. Dali até o final do primeiro tempo, a equipe não se achou mais.Nos vestiários, porém, os jogadores decidiram que não haveria tragédia no Olímpico. Quieto no seu canto, Cuca tomou para si a responsabilidade. Não deu outra; aos 7 minutos, ele recebeu a bola e desferiu uma bomba que paralisou o veterano Rafael. Em seus 35 anos de existência, poucas vezes o Olímpico viu tanta explosão - a da alegria da torcida e a dos rojões enfileirados ao lado do estádio, símbolo da absoluta certeza da vitória.


Era o segundo título nacional do Grêmio e o primeiro em casa - o do Campeonato Brasileiro de 1981 foi conquistado no Morumbi, em cima do São Paulo.Naquele ano, Edinho já tinha três títulos estaduais, todos conquistados pelo Fluminense. Quanto a Assis, ainda corria de calças curtas pêlos campinhos e a escolinha do clube era apenas um sonho para dali a dois anos. No final, Edinho saiu rapidamente do vestiário, mas o garoto ficou por ali, saboreando o assédio dos torcedores. "Não, essa camisa não, essa é para minha mãe", dizia a eles.


Um fa, mais insistente, conseguiu as meias e saiu a exibi-las, para inveja dos outros. "São do rei Assis", festejava.


Campanha:

08/02 Ibiraçu 0 x 1 Grêmio, Alfinete

05/04 Grêmio 6 x 0 Ibiraçu, Alfinete, P. Egídio (2), A. Heleno, Cuca e Kita

12/04 Mixto 0 x 5 Grêmio, Nando (2), Alfinete, Cuca e Assis

29/05 Grêmio 2 x 0 Mixto (WO)

04/06 Bahia 0 x 2 Grêmio, Cuca e Kita

19/06 Grêmio 1 x 0 Bahia, Edinho

03/07 Flamengo 2 x 2 Grêmio, Paulo Egídio e Luís Eduardo

10/07 Grêmio 6 x 1 Flamengo, Cuca (2), Paulo Egídio (2), Almir e Assis

07/08 Sport 0x0 Grêmio

02/09 Grêmio 2x1 Sport, Assis e Cuca

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