quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Respeitem os mais jovens.

Por Silvio Pilau

Quando somos crianças, nossos pais e tias do colégio ensinam uma série de lições para levarmos por toda a vida. São aprendizados que farão diferença para um adequado convívio social, em termos de solidariedade, humanidade e compaixão. Dentre eles, um dos mais importantes é aquele que ensina que é preciso respeitar os mais velhos. É uma veneração que eles conquistaram e nada mais justo do que tratá-los como merecem.
Pois o Grêmio está derrubando essa regra. Há duas rodadas, quando caímos fragorosamente diante do maior rival, a torcida inteira clamou por mudanças. Muitas sugestões surgiram, idéias pulularam e reclamações brotaram como plantas férteis do chão. Cada um tinha a sua opinião sobre o que precisava ser mudado, inclusive Celso Roth. Mas a mudança do treinador não foi tática. Não foi primariamente técnica. Foi uma mudança, acima de tudo, de fôlego.
Celso apostou na gurizada.
O longo campeonato parecia ter desgastado alguns jogadores. O Grêmio das últimas rodadas não era o mesmo do início do torneio. O ímpeto, a raça e a gana de vencer arrefeciam a cada nova rodada. Roth percebeu isso. Percebeu que era preciso sangue novo. Que o momento urgia por renovação. Tal qual um final de segundo tempo com atletas já cansados, Roth deu-se conta de que era necessária substituição para dar novo gás à reta final.
A equipe do Grêmio que entrou em campo contra o Botafogo e o Santos trazia mais da metade de jogadores recém-saídos da categoria de base. Guris crescidos no próprio Olímpico, com o espírito gremista que incendeia cada um de nós nas arquibancadas ainda forte no peito. Além das afirmações que já vinham jogando, os acréscimos de Felipe Mattioni e Douglas Costa. Uma molecada boa de bola, repleta de saúde e vontade de mostrar esforço.
Douglas, um talento bruto que ainda será lapidado. Mattioni, lateral veloz que pode se tornar ainda mais útil quando trabalhar a marcação. Léo, o zagueiro que já nasceu experiente. Magrão, o volante que, apesar de ter voltado mal após a lesão, é um dos grandes destaques do campeonato. Hélder, o novo titular. E Rafael Carioca, um monstro do meio-campo que certamente chegará ainda longe.
Ao lado deles, em meio às espinhas e barbas que começam a crescer, a liderança dos vovôs experientes Tcheco, Pereira, Réver o resto da equipe. Réver, aliás, merece algumas linhas de prestígio. Tem sido um gigante. Em minha opinião, o melhor jogador do Grêmio nas duas últimas partidas. Impecável e implacável na marcação, talentoso na saída de bola e até se arriscando no ataque, tendo decidido a partida contra o Botafogo.
Se a gurizada é a resposta até o final do campeonato, não sei dizer. Talvez não seja. Talvez seja fundamental retornar à experiência nas partidas mais decisivas. Mas eles eram a aposta para o momento. E deram resposta. Sabemos que é possível confiar no talento desses jovens quando chegar a hora deles. Entraram bem, pedindo passagem. Entraram pedindo respeito. Entraram quebrando uma das leis básicas da nossa sociedade. Entraram gritando em seus imberbes pulmões:
- Respeitem-nos. Respeitem o Grêmio. Respeitem os mais jovens.

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