segunda-feira, 24 de março de 2008

A derrota que virá

Por Silvio Pilau

Se não me engano, são dezessete jogos. Quinze neste ano, mais dois no ano passado. Este é o total de partidas que o Grêmio está sem perder. Invicto, sem a obrigação de engolir aquele amargo sabor de derrota. Aquela sensação que desce com repulsa, mas que é inevitável vez ou outra. Começamos a esquecer tal gosto. Dezessete jogos sem sermos vencidos. Muito para uma grande equipe com grandes jogadores, surpreendente para um time mediano e em formação como o Grêmio.

É bom? Claro que é. É fantástico. Acho que todos os torcedores gremistas sofrem o mesmo que eu quando o time perde. Uma derrota, uma simples derrota, para qualquer time pode arruinar o dia de um verdadeiro apaixonado pelo Tricolor. O apito final de um árbitro em uma partida com placar desfavorável é como uma adaga entrando no coração. Precisamos de um tempo para nos recuperar. De certa forma, o dia fica nublado, por mais ensolarado que seja.

Por outro lado, as vitórias trazem plenitude. Tudo à volta parece ficar mais fácil, mais tranqüilo. Problemas tornam-se fichinhas de serem resolvidos e a companhia de outros fica mais agradável. Até estar ao lado de torcedores vermelhos é algo pelo qual se começa a desejar. O Grêmio, neste momento, não é somente uma paixão platônica, mas um amor plenamente correspondido, como se nossos esforços em estar ao lado nos momentos difíceis fossem reconhecidos.

Obviamente, não será sempre assim. O Grêmio vai perder. Pode ser agora no Gauchão, pode ser no Brasileiro, pode ser somente ano que vem na primeira partida da final da Libertadores para uma recuperação espantosa na partida de volta. Vamos ser derrotados, é inevitável. Ouso dizer que, mais do que inevitável, é essencial. A derrota, aquela entidade de cara feia e cheiro pútrido, é algo necessário. Principalmente para um time em formação como o Grêmio.

Prosseguir navegando em um mar de rosas é muito lindo e pacífico, mas é enganador. Ninguém se conhece até enfrentar desafios. Até o tropeço, é impossível saber se temos capacidade de levantar mais uma vez. Este é um dos maiores clichês sobre como enfrentar a vida, mas é real e vale para o futebol também. O Grêmio está evoluindo de maneira exponencial, como ninguém acreditava.
Mas e quando acontecer o inescapável?
Qual será a reação?

A derrota que virá vai servir como um termômetro. Diante dela, poderemos analisar uma série de questões, como a capacidade de recuperação da equipe e a postura dos jogadores. Hoje, as vitórias estão servindo como desabafo dos atletas para aqueles que não tinham fé na equipe. A derrota que virá vai servir como prato cheio para estes críticos. Será um ritual de passagem e autoconhecimento para os jogadores e para a própria torcida.

A vitoriosa campanha até aqui não pode enganar. O Grêmio não é o melhor time do mundo, do Brasil e talvez não seja nem do Rio Grande do Sul. É uma fase esplendorosa, da qual devemos aproveitar ao máximo. Mas vamos perder. E, quando acontecer, vamos crescer. Vamos nos fortalecer. A derrota vai fazer do Grêmio um time ainda melhor. Por isso, ela é fundamental. Por isso, precisamos da derrota que virá.

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