quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Por toda a eternidade

Por Silvio Pilau

A gente sabe que o povo brasileiro possui uma série de qualidades. Alegria, hospitalidade, simpatia, todos aqueles clichês utilizados para definir os brasileiros não deixam de ser verdades. Mas claro que nem tudo são flores. Temos, sim, uma série de defeitos como sociedade. Alguns mais escancarados, outros menos. Um dos deméritos de nosso povo é a curta memória, a veloz capacidade que temos de esquecer fatos e pessoas significativas de pouco tempo atrás.


No esporte, esta questão fica muito mais clara. É comum acompanhar em programas do gênero reportagens sobre grandes ídolos hoje esquecidos, vivendo em estado de miséria, longe do lugar que mereceriam por terem feito parte da vida de milhões de pessoas. E mesmo aqueles que ainda são lembrados não encontram o nível de respeito que deveriam. Basta comparar a adoração de 100% dos argentinos por Maradona e o desdém que grande parte dos brasileiros tem por Pelé para ter uma idéia de como nossos valores, neste sentido, precisam evoluir.


Felizmente, aqui não é assim. Pelo menos, não na Azenha. No Grêmio, quem uma vez marcou seu nome jamais é esquecido, tanto pela torcida quanto pela própria História. Os gremistas têm consciência da grandeza de seu clube. E, mais do que isso, sabem que esta grandeza não foi construída de uma hora para outra. Não foi construída ao vento. A inestimável História Tricolor foi erigida por pessoas. Por heróis que compreenderam o valor da camisa que vestiam. Por deuses hoje reverenciados.


Sei que os não-gremistas que lêem esta coluna vão chiar. Pois então façam uma experiência. Acessem os sites dos principais clubes do país. O único – repito, ÚNICO – que traz na capa, com destaque, um espaço para homenagear e lembrar os grandes é o http://www.gremio.net/. Está lá, na seção “Heróis Tricolores”, destacando, atualmente, Airton Pavilhão. Sem contar que, semana passada, a primeira foto do site era a de Tarciso Flecha Negra em um evento promovido pela direção.


O que se compreende disso? O Grêmio trata, sim, seus heróis de maneira diferenciada. Imaginem, por exemplo, uma festa para comemorar o maior título do clube sem a presença do grande herói da conquista. Quase aconteceu há pouco com uns vizinhos, que esqueceram de convidar o jogador que deu-lhes a taça. E isto é algo inimaginável. Já pensaram uma festa de celebração do nosso título mundial sem a presença de Renato?


Mas esta é a diferença entre o Grêmio e o resto. Mais uma delas. Não que os outros clubes do país tenham esquecido de seus grandes. Podem até lembrar. No entanto, não é como aqui. Não é o mesmo agradecimento, idolatria e, acima de tudo, respeito que temos por aqueles que aqui deixaram sua marca. Milhares e milhares de jogadores já vestiram a camisa do Grêmio. A imensa maioria se perdeu nas artimanhas do tempo, registrados apenas em estatística.


Existem, porém, os poucos. Os verdadeiros representantes de uma paixão que não conhece limites. Homens sobrenaturais, que tiveram plena consciência da dimensão do que poderiam fazer. Do espaço que poderiam alcançar no coração de cada gremista. Guerreiros que jamais temeram. Atletas que sempre se doaram. Heróis, únicos, que construíram a grandeza e fizeram do Grêmio o que ele é.


Estes, meus amigos, jamais serão esquecidos. Estes têm seu lugar de honra nas estrelas que iluminam a relva verde, as arquibancadas e cada centímetro do Olímpico. A memória, para os outros, é um artifício do cérebro. Uma característica da mente. Para os gremistas, a memória é um dom do coração. E quem fica marcado no peito de um gremista tem ali um lugar por toda a eternidade.

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